Matheus Viana Machado
 · Thinker em ascendero

O computador que vale um centavo: Estamos chegando ao fim da linha?

Imagine que você tem um dólar. Em 1970, esse dólar compraria algumas dezenas de transistores. Hoje, ele compra milhões.

Amanhã? Talvez compremos uma ilusão.

A evolução do poder computacional por dólar foi um dos pilares da revolução digital. Desde a Lei de Moore, que previu a duplicação dos transistores a cada dois anos, temos surfado uma onda exponencial de processamento barato. Mas há um problema: todo crescimento exponencial encontra um limite.

Basta olhar para a aviação comercial: nos anos 1960, a velocidade das aeronaves aumentava constantemente, até que o Concorde mostrou que os custos e desafios técnicos tornavam inviável ir além. O mesmo pode estar acontecendo com os processadores. Os limites físicos e econômicos começam a assombrar o progresso.


A Lei de Moore e o Ciclo da abundância

Gordon Moore nunca prometeu que essa escalada duraria para sempre, mas a indústria de semicondutores fez disso um dogma. A cada ciclo de miniaturização, mais poder de processamento por menos dinheiro. O resultado? A era dos PCs inaugurou a computação pessoal, os smartphones conectaram bilhões de pessoas, e a inteligência artificial começou a redefinir o próprio conceito de trabalho e criatividade. O custo por transistor despencou e, com ele, nossas ambições cresceram. O impossível tornou-se corriqueiro.

Mas algo mudou. Estamos em uma era onde os transistores beiram os limites atômicos. O vazamento quântico e o calor excessivo tornam a miniaturização cada vez mais cara. A progressão exponencial desacelera. Os chips mais avançados ainda melhoram, mas não pelo mesmo preço. O dólar já não compra tanta computação quanto antes.


O Dólar que encolhe

Se em 1971 um processador com 2.300 transistores custava centenas de dólares, hoje um chip de IA ultrapassa os 100 bilhões de transistores. Mas isso tem um custo econômico e ambiental. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento estão cada vez mais elevados, e o consumo energético dos chips avançados cresce exponencialmente, desafiando a sustentabilidade do setor. O preço da inovação está se deslocando: não se trata mais apenas de fabricar chips menores, mas de encontrar novas formas de aumentar o desempenho – e isso exige investimentos gigantescos.

Estamos vendo isso na prática. O boom da inteligência artificial impulsionou uma corrida frenética por chips especializados. GPUs e TPUs substituem CPUs tradicionais. Redes neurais substituem algoritmos clássicos. Computação quântica e chips tridimensionais prometem manter o jogo vivo. Mas não é mais a mesma equação. Computação poderosa custa cada vez mais.


A Computação do futuro: inovação ou estagnação?

E agora? Estamos diante de um impasse ou de uma revolução iminente? Há, pelo menos, dois caminhos possíveis:

  1. O Cenário Conservador: A desaceleração da Lei de Moore se confirma. Em vez de dobrar a cada dois anos, a densidade dos transistores dobra a cada 30 meses ou mais. Os chips seguem avançando, mas a custos cada vez maiores. Computadores e servidores ficam mais caros. O acesso à tecnologia se torna mais desigual.

  2. O Cenário Inovador: Encontramos alternativas. Chips 3D, materiais como grafeno e computação quântica oferecem novas rotas. Em vez de depender apenas da miniaturização, aprendemos a aumentar a eficiência energética e o paralelismo. A IA continua sua escalada, mas sob novas regras.

Ambos os cenários têm implicações profundas. Se o primeiro se concretizar, veremos um abismo entre quem pode pagar por poder computacional e quem não pode. Se o segundo triunfar, a revolução digital continua, mas com novos paradigmas.


O Que isso significa para nós?

A resposta depende de quem você é. Se você é um pesquisador de IA, um desenvolvedor de software ou um empresário da tecnologia, a questão não é apenas quando o crescimento vai desacelerar, mas como você se adapta. Precisaremos de soluções mais eficientes, algoritmos mais inteligentes e uma abordagem mais sustentável para o uso de recursos computacionais.

E se você é apenas um usuário comum? Prepare-se. A tecnologia que hoje parece infinita pode se tornar um recurso mais valioso do que nunca. Talvez, em breve, o verdadeiro luxo não seja um novo smartphone ou um supercomputador na nuvem, mas a capacidade de acessar processamento avançado sem pagar uma fortuna.

Se a Lei de Moore foi a estrada que nos trouxe até aqui, a pergunta agora é: ainda há estrada pela frente? Ou chegamos a uma encruzilhada onde precisaremos repensar completamente como avançamos? O futuro pode não estar na continuidade dessa estrada, mas na construção de novas rotas – talvez por meio da computação quântica, da bioinformática ou de paradigmas que sequer imaginamos hoje.

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